enganadoras e enganados ...
Eis se não quando, João Trovão se vê, sentado num sofá, em frente a um televisor, a ver um programa televisivo. No ecrã, no canto superior direito, uma argola vermelha denuncia a existência de imagens que possam perturbar o telespectador mais sensível, no canto superior esquerdo, o logotipo tricolor da TVI denuncia a tipologia, em termos de vulgaridade, do programa, no canto inferior esquerdo, o logotipo do programa de onde sai uma faixa vermelha, uma faixa de rodapé onde se apresentam inscritas mensagens do tipo “Hoje vai ver o que nunca viu ...”.
Nas imagens que vê, o ecrã aparece dividido em dois, do lado direito, Maria Relâmpago, impávida e serena, fala com o apresentador, do lado esquerdo aparece, ele próprio, João Trovão, junto a uma piscina de uma grande moradia ...
Não há dúvida! João Trovão vê-se a ver o programa “Fiel ou Infiel” apresentado por João
Kléber e o teste de fidelidade que está a ver é o seu. O plano muda e todo o ecrã mostra João a aproximar-se de alguém que se encontra a repousar numa das espreguiçadeiras do local.
Esse alguém é o Primeiro-ministro José Sócrates, depois dos circunstanciais cumprimentos, Sócrates fala com João, na necessidade que tem de admitir um acessor de grande qualidade e prestígio e sobretudo de confiança e segundo as informações que dispõe, João Trovão é a pessoa indicada para ocupar o cargo.
Trovão apesar de estranhar a situação, por não ser sócio, perdão, cordeiro, perdão, militante do Partido Socialista, nem sequer simpatizante de Sócrates, mostra-se disponível para negociar o ordenado para ingressar na equipa governativa ... possibilidade que lhe é agora oferecida.
As cenas vão sendo cortadas e entremeadas com imagens em que no ecrã aparece Maria, atenta ao desenrolar do teste, enquanto na sala, entre a assistência, se escuta um burburinho surdo, mas Kléber não consegue arrancar nenhuma palavra, nem da esposa de João, nem da gentalha que em directo assiste ao programa, ninguém quer perder pitada das imagens que lhes são apresentadas.
As condições oferecidas por Sócrates tornam-se irrecusáveis, mas na altura em que João aceita o convite e quando todos esperariam que para conclusão do teste de fidelidade, entrasse uma daquelas meninas sexy’s que trabalham no programa! Isso não acontece ... e é o próprio Primeiro-Ministro que depois de brindarem ao acordo, se levanta, vira as costas para Trovão, despe os calções e começa-se a bambolear sensualmente, ao som da música ambiente entretanto colocada a tocar, até que se coloca de gatas, com o anus virado para João Trovão, continuando abanar as nádegas.
Perante aquela situação, João ficou estupefacto, mas depois de alguns momentos de inércia, próprios de quem é completamente apanhado de surpresa ... levanta-se e ... abandona o local ... deixando para trás, Sócrates a rabear ...
A reacção de João, deixou Maria eufórica e muito, muito feliz ... quando ele entrou na sala, Maria acorreu ao seu encontro ... para o abraçar e felicitar ... Ao mesmo tempo que os espectadores presentes na sala, indignados correram para João com o intuito de o agredirem ... pois ninguém como ele poderia naquele momento ter-se vingado daquilo que Sócrates tem feito à maioria dos portugueses ...
É quando João Trovão se vê, a ele próprio em maus lençóis, que acorda e percebe que tudo não passou de um sonho, melhor, de um grande pesadelo. Entretanto o estrebuchar próprio de quem acorda de um pesadelo, levou a que Maria também acordasse e ensonada pergunta:
- Hum! ... Que foi?
- Nada!... Fui eu que sonhei que tínhamos ido aquele programa que dá às Sextas-feiras à noite e onde aparecem umas meninas que ganham dinheiro por mostrar as suas nádegas e dar lições de moral, que parecem ter sido previamente encenadas, aliás ... só a existência de encenações pode servir de justificação para que essas “meninas” sejam catalogadas, nesse mesmo programa, como artistas ou actrizes. Mas que apesar de tudo parecer ensaiado, só a má qualidade do elenco ou dos argumentistas, consegue justificar o facto do argumento ser igual em todos os programas ...