GREVE ... os outros ... que se lixem!...
Ainda com memória bem fresca do feriado excepcional gozado pela função pública, perdão, ainda com o pensamento na jornada de luta do funcionalismo público, João Trovão pergunta a Maria Relâmpago:
- Que me dizes aos resultados da greve da Função Pública?
- Uma tristeza!
- Hã? ... o que te leva a dar esse parecer? ... Os Sindicatos falam num enorme sucesso!...
- Ó filho! ... Esses sindicalistas de meia tigela deveriam ter mais respeito ... mas, muito mais respeito, por um lado, por quem dizem defender ... e por outro, pelos que ficam afectados com greves que na sua esmagadora maioria têm por base motivações políticas! ...
- Mas querida! A greve é um direito dos trabalhadores ... e é normal que quando haja greve acabe por haver sempre quem fique prejudicado ...
- É muito chato ver que o direito à greve ... se confunde com “faço tudo o que está ao meu alcance para melhorar o meu bem-estar ...e os outros que se fô... lixem”!
...
Por momentos faz-se silêncio ... até que João verificando que Maria acalma os seus ímpetos, volta à conversa tentando perceber as motivações da esposa e pergunta-lhe:
- Afinal, porque é estás tão revoltada?
- Tu não viste na televisão? ... Uma reportagem em que pessoas se deslocaram centenas de quilómetros para consultas externas nos hospitais ... e bateram com o nariz na porta ... até mostrou o caso de uma pessoa que ,dois dias antes, tinha telefonado para o hospital e deste lhe disseram que o médico não iria fazer greve ... mas no dia da greve o médico não apareceu ... grandes filhos da pu ... é o que eles são todos! Irra!
João tenta reconfortar a esposa, dizendo-lhe:
- Também escusas de ficar assim ... afinal de contas, isso não aconteceu contigo!
- Esse também é outro problema nacional ... as pessoas só se preocupam quando as coisas acontecem com elas ... quando acontece aos outros ... estão-se cagando! ... Mas é lamentável que num país onde se fala tanto da necessidade da contenção de custos, redução de gastos energéticos, de incentivos à revitalização da economia e da rentabilização dos recursos humanos, haja greves em que pessoas doentes sejam prejudicadas de três formas, eu repito TRÊS FORMAS!; primeiro, porque não lhes é prestado um serviço de que carecem, segundo porque a situação é motivadora de stress, mal-estar e até pode fazer com que a pessoa piore o seu estado de saúde e terceiro, porque não havendo o bom senso, de ninguém, em as avisar, acarretam ainda com o prejuízo dos gastos com a deslocação e com o todo o prejuízo relacionado com a perca de horas de trabalho suas ou dos seus familiares ou acompanhantes.
- Bem ...
Não deixando, João desenvolver qualquer raciocínio, Maria continua:
- A questão que fica é ... o que é mais barato para o país ... um telefonema do Hospital ou do Centro de Saúde para o doente, a alterar a data da consulta ou ... o doente fazer uma deslocação só para verificar que os funcionários, pessoal administrativo, auxiliares, enfermeiros e médicos, aderiram à greve e que lá terá que voltar um outra vez, com todos os encargos e danos que essa vicissitude implica? João faz um reparo:
- E se não tiverem o número de telefone do utente?
- Se porventura na ficha do doente não consta um número de telefone para que sejam desenvolvidos os indispensáveis contactos, estamos perante outra falha grave! ... O que te digo é que os sindicalistas deveriam preocupar-se em fazer com que o Direito à Greve fosse um direito que só deveria ser consagrado na lei desde que não consagrasse o direito de prejudicar quem nada tem a ver com ela!!!... E mais! Se a lei obriga à existência de um pré-aviso de greve para que as administrações das instituições fiquem alertadas ... então também os utentes dos serviços prestados por essas instituições devem saber previamente se vão ser ou não afectados! ...