… Fazer com que os outros paguem a dobrar!
Passeando pela rua Maria Relâmpago e João Trovão apercebem-se de diversos apartamentos com placas de imobiliárias ou meros anúncios de particulares com a indicação de que o imóvel se encontra para venda e/ou para aluguer. Tal percepção leva a que João pergunte a Maria:
- Viste aquela reportagem que mostrava que a autarquia de Torres Vedras vai subsidiar o arrendamento dos que têm menos possibilidades?
- Vi! … vi …
- E o que é que achaste?
Maria olha para o lado, tentando ignorar a pergunta … mas passados alguns segundos lá tenta responder:
- Passando ao lado do facto de estarmos em ano de eleições … o que faz perceber as verdadeiras intenções da medida … na realidade, é uma medida tão ordinária como todas as outras que facultam subsídios ao arrendamento, sejam esses subsídios dados a jovens, a mães solteiras ou a outros …
A resposta da esposa surpreende João, que logo tenta expor o seu ponto de vista:
- Maria! Então? … Esses subsídios vêm apoiar as pessoas que poderiam ter dificuldades em conseguir casa!
- Que eu saiba, os nossos antepassados nunca precisaram de subsídios para sair de casa dos pais e para arranjar o seu próprio lar! … E nesse tempo as dificuldades eram bem maiores …
- Lá estás tu …
Maria sente a necessidade de terminar:
- Querido! … O resultado imediato destas medidas, é fazer com que o mercado fique desregulado ... dado que se transformam em factores que vêm falsear as regras do mercado e fazem com que os preços dos arrendamentos sejam inflacionados! … Ou seja, aqueles que vêem o dinheiro dos seus impostos subsidiar o arrendamento dos outros … acabam por ver o valor da renda da sua casa subir exponencialmente graças a estas “belas” medidas ...
Também se molha com água da chuva …
Contando ao marido as peripécias de mais um dia de trabalho, Maria Relâmpago relata:
- Bem, hoje o meu colega da contabilidade, chegou ao escritório todo encharcado …
- Então … quê? … Esqueceu-se do chapéu, não viu que estava a chover?...
À indignação de João Trovão, Maria responde, explicando:
- O problema não foi esse … o que fez com que ele chegasse todo molhado foi o facto de uma rua lá das proximidades da empresa não ter o escoamento necessário e a água fica na estrada … e ele teve azar porque entretanto passou um automobilista com mais pressa … e foi o bom e o bonito …
Todavia a explicação de Maria leva a que João desabafe:
- Também não percebo … chove um pouquinho e é logo inundações por todo o lado …
- Não percebes? … mas isso é fácil explicar ….
- Ah! Sim? … e eu a pensar que isso não tinha explicação … aliás, faço ideia do que poderá acontecer se chover uma semana inteira …
Maria prontifica-se a explicar:
- Isto é assim! … Primeiro, há o principio, que todos os portugueses têm, que é o de achar que em Portugal não chove e como esse principio é tido pelos responsáveis políticos, os locais por onde a água deveria passar ficam por limpar … mas como essa mesma tese é tida pelos técnicos, na fase de projecto, as redes de drenagem de águas residuais pluviais ficam sub-dimensionadas, ou porque se adoptam calibres mínimos admissíveis ou porque os caudais de calculo o de dimensionamento tidos em conta para a elaboração do projecto, não só não contemplam as bacias hidrográficas adjacentes e cujas águas terão obrigatoriamente que passar nas canalizações projectadas, como ainda se referem somente a médias de pluviosidade e nunca a períodos de chuva intensa, de tal modo que sempre que tal sucede, as tubagens não dão vazão e as inundações são inevitáveis….