Quinta-feira, 5 de Março de 2009
A Beira Interior é uma região que resulta da moderna união da antiga província da Beira Baixa, com a parte da antiga província da Beira Alta correspondente, grosso modo, ao distrito da Guarda (exceptuando os concelhos de Vila Nova de Foz Côa e de Aguiar da Beira, das regiões de Trás-os-Montes e Beira Litoral, respectivamente).
É constituída por 25 municípios: Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Mêda, Pinhel, Sabugal, Seia e Trancoso (distrito da Guarda), Belmonte, Castelo Branco, Covilhã, Fundão, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei, e Vila Velha de Ródão (distrito de Castelo Branco), Mação (distrito de Santarém) e Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra).
História
A Beira Interior teve, desde sempre, um papel determinante na história de Portugal. Habitada desde tempos imemoriais, por povos pré-históricos, guarda vestígios da época do Bronze (dos quais se destaca a Espada de Castelo Bom, exposta no museu da Guarda), e foi, mais tarde, terra de origem dos Lusitanos, primeiro sinal da identidade portuguesa, que se refugiaram nos Montes Hermínios, actual Serra da Estrela, na luta feroz contra os invasores latinos. Os Romanos, mais fortes, acabaram por vencer, e trouxeram grande evolução à região, desenvolvendo a agricultura e apostando na exploração mineira. Seguiram-se os Visigodos e os Muçulmanos, que trouxeram inovações que estão na origem dos hábitos ancestrais das pessoas desta região. Mas foi na época medieval que a Beira Interior ganhou mais brilho. Disputada, entre os séculos XI e XIII entre Portugueses, Leoneses, Castelhanos e Muçulmanos, foi o garante da independência nacional face a estes povos, e tomou uma importância fulcral para o nosso país. Foram construídas dezenas de castelos e fortalezas, que ainda hoje podemos visitar, e que estiveram durante séculos na linha da frente na defesa do reino de Portugal. É talvez por isso que os beirões-interiores se assumem, desde sempre, como grandes patriotas. Após o fim das guerras, com a definição das fronteiras, as povoações são recuperadas, e a população aumenta significativamente, com a tomada de medidas que promoveram a fixação de colonos nestas terras (talvez hoje em dia, fosse necessário retomar esta ideia...). Foi importantíssima na época dos Descobrimentos, tendo sido berço de alguns dos nossos maiores navegadores e exploradores, dos quais se destacam Pedro Álvares Cabral, Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã. Mais tarde, na Guerra da Restauração, os seus castelos e fortalezas, e o patriotismo das suas gentes voltaram a assegurar a independência nacional. Como recompensa, houve melhorias consideráveis nas construções da região. Mais tarde, a Guerra dos Sete Anos provoca a invasão de algumas povoações raianas, que mais uma vez dão uma prova de patriotismo, ao afastar o invasor. Aquando das Invasões Francesas, os beirões voltaram a dar a vida pela independência nacional, no cerco de Almeida e nas batalhas de Fuentes de Oñoro e Trancoso. Estas invasões provocaram uma forte destruição em toda a região, que abriu uma ferida de morte. A meio do século XIX, o progresso chega, com a abertura das Linhas da Beira Alta e da Beira Baixa, e da fronteira rodoviária de Vilar Formoso. Porém, a emigração começa a fazer-se sentir e a população, ao longo do século XX, vai descendo, por falta de condições de vida. Só nos anos 80 e 90 são criadas algumas infra-estruturas, mas o esquecimento a que foi cronicamente votada ao longo de quase dois séculos, e a falta de autonomia regional no presente, continuam a hipotecar o futuro da Beira Interior.
Identidade Regional
Ao contrário do que é usual pensar-se, a Beira Interior não é uma unidade regional recente. Já no século XIII, em 1299, D. Dinis, no seu testamento, ao dividir Portugal em regiões, cria a região da Beira, correspondente aos actuais distritos da Guarda e de Castelo Branco, e a parte do de Viseu. Nos séculos XV e XVI, as bases da divisão do Litoral e do Interior da Beira mantêm-se. No século XIX, quando se começaram a desenhar as divisões em províncias tradicionais, aparece-nos uma Beira Baixa alargada, que correspondia aos distritos da Guarda e Castelo Branco, ou seja, praticamente ao território da Beira Interior moderna. Quase todas as divisões propostas pelas reformas liberais propunham, embora com configurações diferentes, a divisão entre o Litoral e o Interior da Beira. No século XX, no período do Estado Novo, várias reformas avançam sempre no sentido da divisão das Beiras em Litoral e Interior: ora com 3 províncias (Beira Alta, Baixa e Litoral), ora apenas com a Beira Litoral e a Beira Interior, um modelo moderno que é apoiado pelos maiores geógrafos da época, e seguido na adopção do III Plano de Fomento (1969-1973). Após o 25 de Abril, a Beira Interior aparece na primeira proposta de Regionalização, em 1976. A Beira Interior aparece também como região postal (códigos postais 6000 a 6999), de turismo e telefónicas (grupo de indicativos começados por 27). Com a adesão à CEE, são delimitadas as 7 Regiões Agrárias, entre as quais se encontra a Beira Interior, modelo adoptado pela CEE para Portugal. Em 1998, neste seguimento, nas propostas de regionalização do PS e da CDU (registe-se o boicote do PSD e do CDS), a Beira Interior é região consensual, e é apresentada a referendo, onde a campanha de desinformação lançada pelos anti-regionalistas acaba por dar o seu fruto, acabando por se registar, apesar da afinidade das populações com a região proposta, uma rejeição não à região em si, mas à Regionalização em princípio, já que esta não foi bem explicada aos portugueses. Hoje em dia, a Beira Interior é já uma região entrosada entre os seus habitantes, tendo bastante aceitação nesta zona como uma boa solução de regionalização para Portugal. Apesar de tudo, é preciso convencer os beirões-interiores das vantagens da Regionalização para a sua região, já que, apesar da unidade Beira Interior ser bastante aceite, a Regionalização como princípio de desenvolvimento ainda não é bem entendida por estes lados.
Património
A Beira Interior é a região por excelência do património. É uma das regiões com mais castelos e fortalezas, cerca de 45 no total, a sua grande maioria em bom estado de conservação. Conserva um ambiente medieval, que aliado às suas paisagens bucólicas, a torna um destino turístico por excelência. 12 dos 13 núcleos históricos recuperados ao abrigo do programa “Aldeias Históricas de Portugal” localizam-se na Beira Interior: Almeida, Castelo Mendo e Castelo Bom (concelho de Almeida), Sortelha (c. Sabugal), Castelo Rodrigo (c. Figueira de Castelo Rodrigo), Marialva (c. Meda), Linhares da Beira (c. Celorico da Beira), Belmonte, Trancoso, Castelo Novo (c. Fundão), Idanha-a-Velha e Monsanto (c. Idanha-a-Nova). As cidades são também muito ricas em património, de várias épocas e estilos arquitectónicos. Aqui destacam-se a o centro histórico e a Sé da Guarda (gótico-manuelina, séc. XIV-XVI), o Paço Episcopal de Castelo Branco, e as antigas fábricas da Covilhã. Imperdíveis são também os centros históricos de Sabugal, Trancoso, Celorico da Beira, Gouveia, Belmonte, Penamacor e Fundão, a fortaleza em forma de estrela de Almeida, a jóia da arquitectura militar portuguesa, e a antiga cidade episcopal de Pinhel. De outras épocas, há ainda múltiplas antas, sepulturas antropomórficas e construções romanas (destaque para Centum Cellas, em Belmonte). O património tem vindo a ser recuperado e conservado pelas autarquias e governo, e assume um papel fulcral na vocação turística da Beira Interior. Sente-se a falta de uma autoridade regional que articule as diferentes políticas de turismo e património, e divulgue verdadeiramente esta região belíssima, mas que a maioria dos portugueses ainda não descobriu.Geografia
Território e População
A Beira Interior tem limites naturais bem vincados. A norte, é delimitada da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, pelas serranias dos vales do Douro e do Côa. A este, os rios Mondego e Zêzere, e as serras do Açor, da Gardunha e da Lousã, separam-na da Beira Litoral. A sul e a sudoeste, o rio Zêzere e a serra da Melriça separam-na da Estremadura e Ribatejo. A oeste, as fronteiras com Espanha são as mesmas desde há mais de séculos: os rios Águeda e Erges, e a ribeira dos Tourões, sendo que em várias partes existe a chamada “raia seca”. E, no extremo sul da Beira Interior, o rio Tejo faz a ponte com o Alentejo. O relevo de toda a região é acidentado, com destaque para as serras da Estrela (que se eleva a 1993 m), da Gardunha (1227 m de altitude), de Alvelos (1084 m) e da Malcata (1075 m). Porém, a raia norte da Beira Interior está situada num planalto, prolongamento da Meseta Norte, cuja altitude oscila entre os 600 e os 800 m. A zona sul da região está inserida noutro planalto, mais baixo, prolongamento da Meseta Sul, com altitudes que oscilam entre os 500 e os 700 m. É banhada por três dos principais rios portugueses, o Douro, o Tejo e o Mondego, e pelos seus afluentes, Côa, Alva, Zêzere, Águeda, Erges e Ocreza, entre outros. A Beira Interior ocupa um total de 12 533 km².
Segundo o INE, em 2007 a Beira Interior tinha 368 818 habitantes, correspondendo a uma densidade populacional de 29,4 hab/km2. A população concentra-se maioritariamente nas cidades e vilas, sendo que, se até agora se tem verificado um ligeiro aumento na sua população, desde o início do século que a população tem estagnado ou mesmo diminuído, mesmo nas maiores cidades. Actualmente, segundo o anuário 2007 do INE, existem 10 cidades na Beira Interior: Covilhã (24 772 hab.), Castelo Branco (30 649 hab.), Guarda (26 061 hab.), Fundão (8 369 hab.), Seia (5 702 hab.), Gouveia (3 759 hab.), Pinhel (2 578 hab.), Sabugal (2 362 hab.), Trancoso (2 348 hab.) e Meda (2 193 hab.). As vilas são outro foco de concentração de população. Para além das sedes de concelho, destacam-se ainda Vilar Formoso (Almeida), Alcains (Castelo Branco), Tortosendo e Teixoso (Covilhã). Verifica-se um acentuado envelhecimento da população, que, em alguns concelhos, diminuiu cerca de 15% só entre 2000 e 2007. Grande parte das aldeias da região tem menos de 200 habitantes, e estão em risco de ficar com população zero a curto/médio prazo. Contas feitas, apenas 11,7% dos cidadãos da Beira Interior tem menos de 15 anos, enquanto os idosos (mais de 65 anos) representam já cerca de 25,6%. Esta realidade levará, portanto, a uma diminuição acentuada da população da Beira Interior nos próximos anos. São, portanto, necessárias políticas regionais de fixação de empresas e população, que não estão ao alcance das possibilidades das autarquias nem têm sido preocupação dos sucessivos governos.Recursos naturais A Beira Interior é uma região bastante rica em recursos naturais. Em primeiro lugar, os recursos hídricos, provenientes das bacias hidrográficas do Douro, do Tejo e do Mondego, permitem a produção de electricidade em várias barragens e centrais hidroeléctricas. Por outro lado, os fortes ventos que normalmente se registam na Beira Interior permitem a produção rentável de energia eléctrica através dos parques eólicos, que têm vindo a aparecer na região. A energia solar tem também espaço para crescer. Deste modo, a Beira Interior é auto-suficiente em termos de energia, podendo inclusive produzir energia para suprir as necessidades do resto do país. Outra das riquezas da região é a abundância de fontes de água de nascente e águas minerais naturais, que são exploradas por várias empresas, dando origem às mais conhecidas marcas de água do nosso país, como a Serra da Estrela, Alardo, São Silvestre e Sete Fontes. O subsolo é também muito rico, registando-se explorações de quartzo, feldspato, lepidolite, estanho, volfrâmio, urânio, tungsténio e cobre, e existindo ainda vários depósitos minerais por explorar. As principais minas da região são as da Panasqueira, no concelho da Covilhã. A exploração de rochas toma também um papel muito importante, principalmente dos granitos amarelos e dos xistos.Património Natural O património natural é um dos cartões de visita da Beira Interior. As suas paisagens bucólicas únicas atraem visitantes de todo o país. A neve, rara em Portugal mas frequente na Beira Interior, é o principal atractivo. É nesta região que se situa a maior área protegida do país, o Parque Natural da Serra da Estrela, que contém valores naturais relevantes, incluindo algumas espécies de flora únicas no país; na fauna destaca-se o lobo (Canis lupus), o javali, a lontra e a raposa (Vulpes vulpes). Na Torre, situa-se a única estância de esqui natural do país, a Estância de Esqui Vodafone. Na zona norte da região, situa-se o Parque Natural do Douro Internacional, famoso pelas suas arribas dos vales dos rios Douro e Águeda, onde abundam as aves. Nos concelhos do Sabugal e Penamacor, localiza-se o Reserva Natural da Serra da Malcata, caracterizado pela sua fauna única, onde prontificam espécies como o lobo e a raposa. Foi criada para servir de santuário para o lince-ibérico, espécie em perigo extremo de extinção. A sul, o Parque Natural do Tejo Internacional, caracterizado pelos seus bosques de sobreiros, azinheiras e salgueiros, e por populações únicas de cegonhas, águias, abutres, lontras e veados.Economia
Sector Primário
Apesar dos solos da Beira Interior não serem muito produtivos, a agricultura é, ainda hoje, a principal actividade de muitos dos habitantes da região. A Beira Interior produz produtos muito apreciados, alguns deles classificados pela União Europeia. Destacam-se os vinhos da Beira Interior, a cereja e a maçã da Cova da Beira, e o azeite da Raia. O cereal mais abundante é o centeio. A pecuária é um actividade com condições de prosperar e ser rentável, tal como acontece do lado de lá da fronteira, mas apenas se houver real interesse do país e da região em que tal aconteça. A criação de gado bovino, ovino, suíno e caprino encontra aqui condições óptimas para se praticar. A exploração de madeiras, nomeadamente o pinheiro e o carvalho, é também praticada com alguma rentabilidade A Beira Interior tem, assim, condições para ser um dos pilares da agricultura portuguesa. Porém, neste momento, a população agrícola encontra-se envelhecida, o que poderá hipotecar o futuro da actividade nesta região.
Sector Secundário
A indústria na Beira Interior vive tempos de crise. Se, em tempos, a região foi um importante pólo industrial em termos nacionais, nos últimos anos, devido à falta de incentivos à fixação das empresas no interior, e à crise nacional e internacional, muitas empresas fecharam ou estão em risco de fechar, aumentando consideravelmente os níveis de desemprego da região que, se nada for feito, correm o risco de ultrapassar os 10% nos próximos tempos. Actualmente, os principais sectores industriais presentes na Beira Interior são os têxteis, os componentes para automóveis e a agro-indústria.
Sector Terciário
O sector terciário tem-se desenvolvido nos últimos anos. Actualmente, a oferta em termos de serviços, principalmente na área do turismo, tem potencializado este sector na Beira Interior. Nas cidades, o comércio a retalho tem-se vindo a expandir, com a abertura de múltiplos supermercados, hipermercados e centros comerciais. Contudo, o comércio tradicional tem entrado em declínio.
Transportes e Comunicações
Posição Estratégica
A Beira Interior encontra-se numa posição estratégica em termos nacionais e Ibéricos. Localizada no centro nevrálgico de Portugal, e servida pelas principais rotas rodoviárias e ferroviárias transfronteiriças da Península Ibérica, é o lugar privilegiado para a instalação de qualquer empresa com ambições a nível do mercado ibérico. É, sem dúvida, a região melhor localizada em toda a Península em termos de ligação Portugal-Espanha, localizando-se no centro do triângulo formado pelas cidades do Porto, Lisboa e Madrid, com acessibilidades rápidas a todas elas. A principal plataforma multimodal da Beira Interior é a cidade da Guarda, a 200 kms do Porto (2h), 320 kms de Lisboa (3h) e 375 kms de Madrid (4h). Outros pólos estratégicos multimodais são Vilar Formoso (principal fronteira terrestre de Portugal), Castelo Branco, Covilhã e Celorico da Beira.
Principais vias de comunicação
A Beira Interior tem sido, nos últimos anos, finalmente alvo de modernizações na sua rede rodoviária. Assim, é servida por cerca de 245 kms de auto-estradas e algumas vias rápidas, que conferem à região boas acessibilidades com o resto do país e da Europa. Na Beira Interior confluem os eixos rodoviários europeus E80 e E802. As auto-estradas A23 (Torres Novas-Guarda) e A25 (Aveiro-Vilar Formoso), as vias-rápidas IC8 (Pombal-Proença-a-Nova) e IP2 (Fratel-Castro Verde) e as estradas N 17 (Coimbra-Celorico da Beira), N 102 (Macedo de Cavaleiros-Celorico da Beira), N 221 (Miranda do Douro-Guarda) e N 240 (Castelo Branco-Segura) constituem a rede fundamental que serve a região. Assim, os principais pontos de intersecção rodoviária são a Guarda, Castelo Branco, Celorico da Beira, Vila Velha de Ródão, Vilar Formoso e Segura, sendo fácil aceder, a partir deles, ao Porto, Lisboa, Coimbra, Viseu, Bragança, Portalegre, Salamanca, Cáceres, Madrid e à fronteira franco-espanhola de Hendaye/Irún. Em termos ferroviários, a região é servida pelas linhas da Beira Alta (Pampilhosa-Vilar Formoso) e da Beira Baixa (Entroncamento-Guarda). A Guarda, como ponto de intersecção das duas linhas, é o principal ponto ferroviário da região. Actualmente, as linhas estão a trabalhar a meio-gás, devido ao seu mau estado de conservação. Ainda assim, efectuam-se os serviços Intercidades de passageiros Guarda-Lisboa e Covilhã-Lisboa, e o serviço internacional Lisboa-Guarda-V.Formoso-Paris. Existe um aeródromo na Covilhã.
Em suma, a Beira Interior é uma região com grande potencial, mas que tem sido desprezada continuamente pelos governos centrais, por pura falta de vontade política. Se tudo continuar como está, e mesmo com a regionalização sob o mapa das 5 regiões-plano, a Beira Interior continuará dependente do Litoral, que desconhece as realidades, e desvia os fundos e as medidas que são indispensáveis à sobrevivência da Beira Interior, e acabará por morrer, como já está a acontecer aos poucos com a maioria das aldeias e vilas. A única forma de reverter esta situação e evitar a morte da Beira Interior é uma regionalização que atribua notoriedade e poder efectivo à Beira Interior, de modo a que aqui se possam aplicar as melhores políticas, que se coadunem com a realidade específica desta região. (Por Afonso Miguel)
Fui alertado através de um visitante deste espaço, que havia um pequeno lapso neste post. O lapso estava relacionado com o distrito a que Pampilhosa da Serra pertence, após alguma pesquisa constatei que de facto Pampilhosa da Serra pertence ao distrito de Coimbra e não de Castelo Branco, como havia publicado. Fica desde já rectificado o lapso, restando-me como é obvio apresentar as minhas desculpas a todos pela confusão que causei e agradecer ao nosso visitante Sr. Chanesco.
Um grande abraço e os meus respeitosos cumprimentos
Paulo Damasceno
Caros amigos do Trovoada Seca:
Antes de mais, deixem-me felicitá-los pelo excelente trabalho desenvolvido neste blogue, em prol deste nosso concelho de Almeida.
O que me traz aqui é uma problemática já bastante discutida em vários blogues, cujos artigos (de excelente qualidade) têm muitas vezes sido postados por mim e pelo coordenador, António Almeida Felizes, no blogue Regionalização (regioes.blogspot.com).
Desde há algum tempo, tenho vindo a ser um colaborador regular desse blogue, debatendo a questão da Regionalização pela perspectiva da Beira Interior, já que tantas vezes a voz das pessoas desta região é abafada e esquecida.
O encerramento de escolas e de estações e linhas ferroviárias, a tentativa de encerramento de maternidades e de colocação de portagens nas nossas auto-estradas, o mísero estado em que se encontram algumas das nossas estradas, o isolamento, o abandono, a migração e a emigração, a desertificação, e os poucos apoios à nossa região, têm sido verdadeiros cavalos de batalha pelos quais tenho lutado nesse blogue, na tentativa de evitar uma verdadeira pilhagem à nossa região, que os governantes parecem querer ver como terra de ninguém, e que é olhada como o parente pobre de Portugal.
Muito se tem falado no PNOT (Plano Nacional de Ordenamento do Território), talvez com a esperança de que este traga algum desenvolvimento para a nossa região. Desenganemo-nos. Olhemos para o que diz o relatório deste polémico plano:
"O reconhecimento de que a Area Metropolitana Lisboa é o principal espaço de internacionalização competitivo de Portugal. pemite ter expectativas que será na Região de Lisboa que deveráo ser concentradas as principais acções e medidas que reforcem esse papel a nivel europeu e mundial.
Sem descurar a preocupaçáo com o desenvolvimenlo harmonioso das restantes regióes do pais que complementaráo essa competitividade e náo entraráo em competição/anulação desse designio, ou desenvolverão outras apeténcias, como o caso do Turismo no Algarve."
Conclusão: Mais uma vez, seremos tratados como portugueses de segunda. De segunda, não. De terceira, porque, para além de não sermos de Lisboa, também não somos do Litoral.
A Beira Interior, ao contrário do que nos querem impingir, não é uma região morta. Antes pelo contrário. Temos tudo para dar certo como região.
Vejamos:
*estamos numa posição estratégica a nível Ibérico (no centro do triângulo Lisboa-Porto-Madrid), o que é um factor determinante para a atracção de investimento industrial e comercial;
*estamos servidos por duas das principais auto-estradas portuguesas, a A23 e a A25 (que constituem duas das principais rotas ibéricas e europeias, a E80 e a E802), e por duas importantes linhas férreas (embora necessitem de manutenção), a da Beira Alta e a da Beira Baixa;
*temos possibilidades de ter uma agricultura de baixos custos, mas boas produções de qualidade (veja-se o que acontece nas vizinhas regiões espanholas de Castilla y León e da Extremadura);
*temos uma universidade, das mais conceituadas do país, e que forma profissionais com boas qualificações para enfrentar o mercado de trabalho, e entrar em projectos inovadores para a região e para o país;
*temos um espírito de cooperação e associativismo único no país (de que é exemplo a existência de blogues locais e regionais como o este, que nas regiões do litoral quase não existem ou são de inferior qualidade);
*temos um eixo urbano com condições para evoluir e se consolidar, o eixo Guarda-Covilhã-Castelo Branco, com cidades de dimensões idênticas, o que evita que numa região da Beira Interior haja dominância ou centralismo de qualquer uma delas (por isso defendo a distribuição dos serviços regionais pelos diversos concelhos da região, ou seja, a inexistência de capitais regionais);
*temos um turismo em franco desenvolvimento, principalmente na Serra da Estrela, e temos pólos turísticos únicos a explorar, nomeadamente as Aldeias Históricas, os centros históricos das cidades, os castelos, e o turismo de natureza (parques naturais da Malcata e do Douro Internacional, serras da Gardunha e da Estrela, vales do Tejo, Côa, Mondego e Zêzere);
De Anónimo a 31 de Março de 2009 às 15:56
(continuação do comentário anterior):
*temos condições para investir na produção de energias, principalmente através de fontes renováveis (eólica, hídrica e solar), e podemos facilmente tornar-nos auto-suficientes em termos energéticos e hídricos;
*somos, reconhecidamente, uma das regiões onde há maior qualidade de vida no país;
*como região a necessitar de investimento, somos uma das regiões da União Europeia a 15, com possibilidades de receber mais apoios comunitários, o que, conjuntamente com os fundos nacionais, torna a Beira Interior numa região perfeitamente viável, desde que se tome à partida um rumo definido de desenvolvimento e convergência com as restantes regiões da Península Ibérica e da Europa.
Porém, nas últimas décadas, apenas temos ficado com as "migalhas":
*estando inseridos num país profundamente centralista e centralizado como é Portugal, temos sofrido com o facto de estarmos muito longe de Lisboa para sermos ouvidos.
*por outro lado, sofremos também com o facto de termos sido colocados numa região-plano (Centro), onde não temos voz, nem peso, perante um Litoral constituído por concelhos como Coimbra, Aveiro, Figueira da Foz, Leiria, e mesmo Viseu, entre outros, que vive uma realidade muito diferente e não percebe as necessidades da Beira Interior. Por outro lado, os fundos que a Europa destina às regiões menos desenvolvidas, e que, sendo destinados à Beira Interior, vão parar à entidade gestora (CCDR-C), em Coimbra, são continuamente desviados para investimentos no Litoral, ficando, mais uma vez, o Interior bastante prejudicado.
Deste modo, nos últimos anos:
*enquanto à volta de Lisboa, e no Litoral, na década de 1980 e 1990, se construíram auto-estradas, aqui no Interior ficámos à espera para depois sermos servidos por estradas de segunda (IP's). Só com 20 anos de atraso chegaram as auto-estradas;
*enquanto no Litoral se reformularam as linhas férreas, e se introduziram novos serviços, no Interior continuamos a ter comboios como há 30 anos;
*enquanto no Litoral se deram incentivos ao investimento, e se promoveu a instalação de novas empresas, ninguém fez nada pelo Interior, apesar de este estar, como já disse, numa posição estratégica;
*o Interior nunca foi alvo de políticas específicas de desenvolvimento, nem de discriminação positiva (impostos mais baixos, incentivos à fixação de pessoas e empresas, e à natalidade; etc.). Antes pelo contrário, foram encerradas escolas, urgências, e serviços ferroviários, não se vislumbrando melhorias a curto/médio prazo.
Em suma, não se vislumbra grande futuro para a Beira Interior com a continuidade deste estado de coisas, nem sem regionalização, nem com a inclusão da nossa região no Centro.
As vantagens de uma regionalização são inúmeras e bastante notórias. Para tal, convido todos a consultar o blogue "regioes.blogspot.com", onde este tema tem sido amplamente debatido.
Penso que está na hora de a Beira Interior se autonomizar, e encetar finalmente um caminho de desenvolvimento pleno, que maximize o potencial desta nossa região, e acabe de vez com o nosso isolamento secular, tornando-nos uma região competitiva e de futuro, permitindo o regresso de todos aqueles que se viram obrigados a daqui sair, e evitando que os jovens da nossa região se vejam obrigados a (e)migrar em busca de um futuro melhor.
Para isso estou, em conjunto com alguns colabordores do blogue, a propor um mapa de 7 regiões para Portugal Continental, que serão as seguintes:
*Entre-Douro e Minho;
*Trás-os-Montes e Alto Douro;
*Beira Interior;
*Beira Litoral;
*Estremadura e Ribatejo;
*Alentejo;
*Algarve
Gostaria de saber a opinião de todos os sabugalenses, e da população em geral, sobre esta temática.
Para mais informações sobre a referida proposta, deixo aqui alguns links a consultar:
http://regioes.blogspot.com/2009/01/proposta-das-7-regies.html
http://regioes.blogspot.com/2009/01/7-regies-de-portugal-beira-interior.html
http://regioes.blogspot.com/2009/01/esclarecimentos-de-um-regionalista.html
Todas as opiniões são bem-vindas, numa discussão que se quer responsável e abrangente, em busca da melhor solução para a nossa região e para o país. Para que deixe de haver portugueses de primeira e de segunda.
Cumprimentos,
Afonso Miguel
PS: Muito obrigado pela referência ao meu texto.
Onde se lê "sabugalenses" deve ler-se "almeidenses". Desde já as minhas desculpas.
Cumprimentos,
Afonso Miguel
Caro amigo Afonso Miguel, antes de mais gostaria de o felicitar e de lhe agradecer a sua disponibilidade por ter vindo aqui a este pequeno/grande espaço, com este comentário tão abrangente e que espelha precisamente o que se tem vindo a passar com a nossa BEIRA INTERIOR.
Se não se importar gostaria de ver este seu comentário aqui debatido http://porterrasderibacoa.blogs.sapo.pt/
Um grande abraço e volte sempre que quiser.
Paulo Damasceno
Caro Paulo Damasceno:
Não tem nada que agradecer. Quem agradece sou eu por ter apreciado o meu artigo. Tem toda a liberdade para colocar este artigo à discussão onde quiser, pois um dos meus objectivos ao escrevê-lo é fazê-lo chegar ao máximo de pessoas possível, nomeadamente dentro da Beira Interior.
Ficarei atento aos seus blogues, nomeadamente ao Por Terras de Riba Côa. São de louvar estas iniciativas, que enobrecem a nossa região.
Com os melhores cumprimentos,
Afonso Miguel
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